Os aiatolás do Irã derrubaram o xá Reza Pahlevi em 1979 com a promessa de instaurar um regime de pureza islâmica e alto padrão de moralidade pública. Para atingir tais objetivos, o clero xiita assumiu total controle do aparelho de Estado, das instituições nacionais e também de boa parte da economia. Mais de duas décadas depois, o resultado da islamização é impressionante: os iranianos estão mais pobres e os aiatolás, muito mais ricos. O surgimento de uma casta de milionários de turbante era previsível. Não há decisão política ou econômica importante no Irã sem a bênção dos mulás. E eles usam essa influência para controlar os melhores negócios, principalmente os que envolvem moeda forte. Não se tem notícia de que o falecido aiatolá Khomeini, fundador da República Islâmica, tenha tirado proveito financeiro do poder ilimitado de que dispunha. Já seu filho mais velho, Ahmed, clérigo sem fortuna que passou a controlar a agenda do pai, tinha se tornado o homem mais rico do Irã quando morreu, em 1995.
Com base em cálculos do economista iraniano Saeed Laylaz, a revista americana Forbes diz que o clero xiita desviou de 3 bilhões a 5 bilhões de dólares por ano na última década só com subsídios concedidos aos religiosos na compra de moeda estrangeira. O Irã detém 9% das reservas mundiais de petróleo e também é rico em gás natural.
A fortuna acumulada pelos líderes religiosos é assunto tabu no Irã por várias razões. A primeira, óbvia, pelo fato de os iranianos viverem sob uma ditadura - não há partidos de oposição legalizados, Judiciário independente nem liberdade de imprensa para denunciar os desmandos dos mulás. A estrutura de poder no Irã também facilita a roubalheira. Cerca de 60% da economia está nas mãos do Estado. Outros 20% são controlados pelas "bayads" - as fundações de caridade religiosa que, na prática, funcionam como estatais gigantes. Sua função era atender às camadas pobres da população, mas acabaram se convertendo rapidamente em instrumento de clientelismo político e fonte incontrolável de corrupção. Até recentemente, essas fundações eram isentas de impostos, podiam pegar emprestado dinheiro de bancos estatais a juros subsidiados e ainda tinham acesso a taxas de câmbio especiais. De quebra, não precisavam prestar contas ao governo - apenas a Alá.
Com tantos benefícios, essas fundações religiosas criaram impérios econômicos. Um exemplo é a Fundação dos Oprimidos, dirigida por Moshen Rafiqdoost, ex-chefe da segurança pessoal de Khomeini. Apesar do nome, a fundação tem 400.000 funcionários e bens avaliados em 12 bilhões de dólares - entre eles, redes de hotéis cinco-estrelas e uma fábrica da Pepsi nacionalizada, sem contar setores da indústria petrolífera, têxtil e de construção civil. Além de encherem os bolsos dos mulás e servirem de cabides de emprego, as bayads financiam grupos terroristas no exterior, como o Hezbollah, no Líbano, e são apontadas como fonte de recursos para o programa nuclear secreto do governo. Khatami, o presidente reformista, conseguiu aprovar algumas leis que cortaram vários dos benefícios fiscais das bayads e tomou medidas para coibir a corrupção. Mas parece improvável uma caça aos mulás milionários.
Fonte: http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/conheca_pais/ira/contexto_economia.html
Postado por José Everaldo de Oliveira Neto
1 comentários:
A corrupção se espalha em todos os setores políticos mundiais. Como postado por mim em uma reportagem sobre a corrupção no Taiwan, lá a corrupção é punida severamente. Já vislumbra-se que a situação do Irã é até parecida com a do Brasil, onde os corruptos são poderosos ao ponto de driblar a punição por seus atos.
Por José Everaldo Neto
Postar um comentário