No mundo pós 11 de Setembro, mercenários ganham licença para matar


Rémy Ourdan

Mata-se muito no mundo pós-11 de Setembro. A Al-Qaeda e os jihadistas matam e são mortos. Os norte-americanos e seus aliados matam e são mortos. Afegãos e iraquianos, mortos às dezenas de milhares nos últimos anos, são os principais a sofrer com esses confrontos. Mata-se com um kamikaze solitário ou um exército de 100 mil homens. Mata-se abertamente, e mata-se às escondidas.

A Al-Qaeda decretou que sua missão era matar "judeus e cruzados", libertar o mundo dos "infiéis". Uma licença para matar foi dada a todo "bom muçulmano" que quisesse participar do combate. Diante dos jihadistas, países entraram em guerra. Os Estados Unidos, atacados em seu território em 2001, assumiram a frente da luta antijihadista. Com um apoio internacional inicialmente unânime, contra a Al-Qaeda e o Taleban afegão, e depois de forma cada vez mais contestada, no Iraque e hoje no Afeganistão.

Descobre-se que, nesta guerra, Washington deu uma licença para matar a homens que não são nem soldados, nem policiais, nem de nenhuma maneira agentes a serviço do Estado. A CIA autorizou, por contrato, uma sociedade de mercenários, a Blackwater USA, a matar jihadistas. Uma das questões levantadas é simples: quem tem o direito de matar em nome dos EUA?

Blackwater é uma empresa militar privada criada por um ex-membro dos Navy Seals, Erik Prince. Ele pertence ao movimento dos falcões republicanos e dos cristãos conservadores e reivindica a ideia de uma "cruzada" norte-americana e cristã contra o islamismo. Multimilionário graças à "guerra contra o terrorismo", Prince subiu, sem nenhuma função oficial, até os níveis superiores do poder em Washington, assinando contratos secretos para "black operations" (operações secretas) conhecidas somente de Bush, Cheney, Rumsfeld e chefes de serviços de inteligência. Prince e os "soldados" da Blackwater se tornaram um dos braços armados dos EUA em guerra. Mercenários que compartilham da mesma ideologia que seus patrocinadores.

Ainda que esse programa secreto tenha sido interrompido, a atitude da administração Obama em relação à Blackwater e outras empresas militares ainda não está clara. Foram assinados contratos em 2009 para a proteção de diplomatas e chefes militares americanos.

Outras democracias ocidentais, aliadas dos Estados Unidos, estão quietas. Da mesma forma que elas se calavam a respeito da "terceirização" da tortura, elas se calam sobre a terceirização do assassinato.

Muitos valores foram escarnecidos, e muitos pontos de referência foram perdidos desde o 11 de setembro, e o recurso a mercenários é certamente um fenômeno tão antigo quanto a história das guerras. Entretanto, um dia será preciso reafirmar quem, em uma guerra, tem o direito de matar o inimigo. Pode a mítica "License to kill", geralmente reservada a agentes secretos e a soldados em missão, ser confiada a matadores profissionais, por um punhado de dólares?

Postado por: José Everaldo Neto

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